Primeiras turmas, muitos destinos: a trajetória da Engenharia Física no Instituto de Física da UFG
Conheça algumas das trajetórias que ajudam a escrever, dia após dia, a história da Engenharia Física no IF/UFG
Quando o curso de Engenharia Física foi aprovado e implantado no Instituto de Física da UFG, em 2013, a proposta era ousada: formar engenheiras e engenheiros com sólida base em Matemática, Física e Química, articulada a competências próprias da engenharia, para atuar nas fronteiras da tecnologia, da inovação e do desenvolvimento de materiais. Ao longo desse percurso, o curso também conviveu com o desafio de responder, de maneira simples, à pergunta “O que faz um engenheiro físico?” e de se consolidar no imaginário social como uma formação específica, justamente por ocupar uma região de fronteira entre diferentes campos do conhecimento. Passados mais de dez anos, porém, as trajetórias profissionais e acadêmicas de suas egressas e egressos mostram que essa aposta se confirmou: o curso se apresenta hoje como uma formação estratégica para Goiás, para o Brasil e para os desafios do futuro. Na imagem, vê-se a primeira turma ao lado do coordenador do curso à época, Prof. Dr. Lauro June Queiroz Maia, em registro divulgado na matéria produzida em 2013 por Erneilton Lacerda para o Jornal UFG.
Fonte: Jornal UFG
Desde o início, a graduação foi concebida com uma matriz curricular robusta, distribuída em dez semestres, combinando disciplinas fundamentais em Física e Informática com uma progressiva imersão em eletrônica, automação, controle e caracterização de materiais diversos para aplicações tecnológicas em estado sólido. Essa arquitetura, construída em diálogo com outras unidades da UFG e inspirada em referências nacionais e internacionais, buscava justamente ampliar o leque de atuação dos futuros engenheiros físicos, conectando-os a temas como nanotecnologia, energia, instrumentação e tecnologias emergentes.
Passados mais de dez anos, o curso de Engenharia Física chega agora a um momento decisivo: a reformulação de seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC), em vigor desde a criação da graduação, em 2013. Esse processo de atualização busca preservar as bases que fizeram do curso uma formação de referência e, ao mesmo tempo, alinhá-lo às novas demandas científicas, tecnológicas e sociais, incorporando a experiência acumulada pelas primeiras turmas e pela atuação de suas egressas e egressos em diferentes setores.
Ao longo de sua história, a Engenharia Física da UFG foi concebida como um curso generalista e interdisciplinar, característica que, em alguns momentos, despertou dúvidas e questionamentos entre estudantes ainda em processo de amadurecimento da própria visão de mundo e de carreira. Na prática, porém, esse caráter generalista é justamente o que posiciona o curso na fronteira do conhecimento: trata-se de formar profissionais capazes de transitar entre diferentes áreas, integrar linguagens distintas da ciência e das engenharias e enxergar problemas complexos com mais profundidade.
A formação diversa, que combina desde conteúdos teóricos avançados até disciplinas aplicadas e vivências em pesquisa e extensão, tem como propósito desenvolver habilidades de leitura crítica da realidade e de formulação de soluções para desafios que, muitas vezes, ainda nem existem. Ser engenheira ou engenheiro físico, nessa perspectiva, é aprender a pensar e ver além: propor caminhos mais eficientes e eficazes para resolver problemas na indústria, no mercado de tecnologia, no setor de energia, na gestão de negócios ou na área acadêmica, contribuindo para moldar não apenas respostas pontuais, mas o próprio presente e o futuro.
Efetuamos um levantamento de dados com egressas e egressos formados entre 2017 e 2023 e percebemos um cenário plural: há quem tenha seguido diretamente para a pós-graduação (mestrados e doutorados em instituições como UFG, UFAM, Unicamp e Universidad de Concepción, etc), quem esteja inserido na indústria e em empresas privadas nos setores de automação, agroindústria, fármacos, energia e tecnologia da informação, além de trajetórias consolidadas em ciência de dados, desenvolvimento de software e gestão de negócios de base tecnológica. Entre os sujeitos da pesquisa, uma parcela significativa atua em pesquisa e academia, outra fração expressiva está na indústria e em empresas privadas, há um grupo relevante de empreendedoras e empreendedores que criaram seus próprios negócios, sobretudo em TI e soluções tecnológicas, e também quem atua no serviço público, evidenciando a vocação do curso para formar profissionais versáteis e capazes de abrir seus próprios caminhos.
Fonte: Comunicação IF
Ao lado dos relatos individuais, um gráfico elaborado a partir desse levantamento ajuda a visualizar este panorama de forma sintética. Nele, é possível observar quantos seguiram para a pós-graduação em níveis de especialização, mestrado e doutorado, bem como o grupo que, mesmo permanecendo apenas com a graduação, conquistou espaço e se destacou em diferentes segmentos do mercado de trabalho, reforçando a versatilidade da formação em Engenharia Física.

Fonte: Comunicação IF
Algumas trajetórias ilustram bem essa diversidade. Pedro Gabriel Vieira Silva, que ingressou em 2014 e concluiu o curso em 2020, hoje atua no serviço público como papiloscopista e chefe do Núcleo de Identificação da Polícia Federal em Manaus (AM), em sua trajetória, Pedro destaca o elogio profissional recebido pela atuação na Operação Turquesa, voltada ao combate ao tráfico de pessoas em regiões de fronteira e à identificação de pessoas procuradas pela Interpol, e reconhece que o curso de Engenharia Física contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento de análise crítica e técnica, além de uma abordagem científica para a solução de problemas, elementos centrais para o exercício da função na Polícia Federal.
Arthur Henrique Floriano Pereira também ingressou em 2014 e concluiu o curso em 2020; atualmente atua como analista sênior de tecnologia da automação na Jalles S.A., aplicando no cotidiano conhecimentos em eletrônica, circuitos, materiais elétricos e sistemas de automação, ao mesmo tempo em que se especializa em automação de processos agrícolas e industriais na UFV. Em outra frente, Luiz Henrique Araújo Rodrigues Ferreira, da turma de 2014, seguiu do mestrado em Física na UFG para o doutorado na Unicamp, com passagem por estágios no exterior, e hoje atua como analista sênior em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação no Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica, gerindo projetos em sensores físicos e químicos para empresas e indústrias, empregando técnicas experimentais e conhecimentos em materiais que remontam diretamente à formação em Engenharia Física.
As conexões com o setor industrial aparecem também em áreas de fronteira tecnológica. Wictor Hugo Mendes Rocha, egresso da primeira turma de 2013, especializa-se em Data Science e Analytics pela USP e atua como cientista de dados na Hypera Pharma, desenvolvendo modelos preditivos que dependem da sólida formação em exatas e da capacidade de resolução de problemas complexos adquirida no curso. Júlio Anderson de Oliveira Júnior, que ingressou em 2013 e concluiu em 2019, hoje é product engineer na Stellantis Brasil, trabalhando com calibração e validação de testes em motores e transmissões, e aponta que a amplitude de assuntos abordados e o treino como “solucionador de problemas em diversos campos da engenharia” tornaram a transição para áreas como computação e indústria automotiva mais fluida. Em outro recorte, Janine Cavalcante de Oliveira, primeira mulher formada em Engenharia Física pela UFG e mestre em Engenharia de Produção com foco em gestão de energia e eficiência energética, construiu carreira no setor elétrico com ênfase em energias renováveis e hoje é gerente de operações na Modal Energia. Ao longo de sua trajetória, atuando desde projetos técnicos até a gestão estratégica, ela destaca como a formação em Engenharia Física abriu portas para atividades técnicas em engenharia, consolidou sua reputação em consultoria e gestão em energia e fortaleceu a confiança de que, com dedicação, é possível aprender qualquer coisa e transitar com segurança entre diferentes desafios do setor.
A pluralidade de caminhos também aparece nas trajetórias de Arthur Torres do Carmo, Carolyne Beatriz Simões Valentin e Marcos Evangelista Oliveira Sales. Formado em 2022, Arthur atua como desenvolvedor de software na Avalara, na indústria privada, e destaca como o curso contribuiu para seu senso de responsabilidade, organização e, sobretudo, para a base em programação que hoje sustenta seu trabalho cotidiano. Carolyne, que concluiu o curso no mesmo ano, é doutoranda em Mecânica dos Sólidos na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, em Campinas (SP), e ressalta que a formação interdisciplinar em Engenharia Física foi decisiva para sua capacidade de adaptação a diferentes áreas de pesquisa. Já Marcos Evangelista Oliveira Sales, egresso de 2022 e especialista em Business Intelligence na Agrex do Brasil - Mitsubishi, atua com infraestrutura de dados, gestão de projetos e automação, relatando que a graduação o ajudou a migrar e estruturar culturas de dados em empresas e que a Engenharia Física se tornou um diferencial permanente em sua trajetória profissional.
O empreendedorismo também emerge como uma vertente importante. Sávio Pereira Alves, egresso de 2019, optou por criar uma empresa de TI focada em segurança da informação, a STI Soluções Tecnológicas em Informática, e ressalta que, embora não tenha seguido diretamente na área de Engenharia Física, o curso foi decisivo para desenvolver habilidades de resolução de problemas e um domínio aprofundado em microeletrônica que se tornou diferencial no seu campo de atuação. Em outro exemplo, Danielson Dantes Magalhães Lessas, graduado em 2022, é sócio-administrador da Embac Acústica, empresa que fabrica materiais para condicionamento acústico de igrejas, estúdios e auditórios; ele destaca que aplica o método científico e conhecimentos adquiridos na graduação para melhorar processos de fabricação e tomar decisões técnicas na empresa, mostrando como a formação em Engenharia Física também sustenta projetos de base empreendedora.
Na fronteira entre Engenharia Física e pesquisa de ponta, as histórias se multiplicam. Rafael Cárbat Miranda, da turma de 2013, cursa doutorado em Física Aplicada na Unicamp, trabalhando com fotônica quântica integrada e fabricação de chips fotônicos para geração de estados quânticos de luz; parte de sua pesquisa foi realizada em Yale, por meio de bolsa de doutorado sanduíche do programa PrInt/CAPES, e ele atribui de forma direta ao curso de Engenharia Física as bases que permitiram trilhar essa trajetória. Letícia Lira Tacca, que concluiu o curso em 2019, é doutoranda na Universidad de Concepción, no Chile, atuando em óptica quântica experimental e criptografia quântica. Em 2022, participou de uma hackathon internacional de computação quântica na qual, junto a sua equipe, conquistou o 1º lugar na categoria “Quantum Universal Education”, obtendo destaque na competição. A egressa também afirma que “recentemente neste ano, junto a um grupo de investigadores da Europa, eu e meu orientador Stephen Walborn conseguimos publicar um excelente artigo de revisão em uma revista de elevado prestígio (Physics Reports) sobre protocolos de criptografia quântica, especificamente o DI-QKD (device- independent Quantum Key Distribution), abrangendo desde uma completa descrição teórica até os desafios de implementação real da tecnologia.” um exemplo concreto de como a formação recebida no IF/UFG projeta seus egressos para o cenário científico internacional.
Na pesquisa em materiais e simulação, as contribuições também são expressivas. Lucas de Sousa Silva, formado em 2023 e atualmente doutorando e professor substituto no IF/UFG, investiga, por meio de dinâmica molecular, supercapacitores com eletrólitos avançados e eletrodos de grafeno e MXenes, e acumula conquistas como capa de periódico internacional da área e prêmios por melhor pôster em eventos especializados, além de integrar um conjunto de discentes do PPGF/IF/UFG com produção científica destacada em periódicos de alto impacto. Gustavo Lourenço Silva Galvão, egresso de 2023, é mestrando em Mecatrônica na Unicamp e pesquisador no Laboratório de Sistemas Integrados, atuando em protótipo modular de frenagem regenerativa para caminhões com câmara fria; ele relaciona diretamente a profunda formação em bases de Física, programação, instrumentação e análise de materiais do curso às competências que hoje emprega na pesquisa e no desenvolvimento tecnológico.
Essas trajetórias, embora singulares, partilham pontos em comum que aparecem insistentemente nos depoimentos. Em quase todos os relatos, egressas e egressos mencionam a forte base em ciências exatas, a interdisciplinaridade e a resiliência necessária para concluir um curso reconhecido como um dos mais desafiadores da UFG. Conteúdos teóricos de alta abstração, que tratam de sistemas microscópicos, da organização estatística de grandes conjuntos de partículas e dos princípios fundamentais que regem transformações de energia e situações de equilíbrio, são ressignificados como verdadeiros laboratórios de pensamento, nos quais se aprende a “pensar fora da caixa”, modelar problemas complexos e buscar soluções criativas e rigorosas, competências que se tornam virtudes decisivas tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado de trabalho.
A dimensão humana da formação também é marcante. Muitos egressos destacam as amizades construídas, os grupos de estudo semanais, o apoio mútuo nos momentos de maior dificuldade e o papel da iniciação científica, de monitorias e de projetos de extensão na construção de redes de contato, maturidade acadêmica e descoberta de vocações. Em seus relatos, aparecem ainda reflexões sobre a importância de respeitar o próprio ritmo e compreender que, para a maior parte das trajetórias profissionais, o que pesa não é apenas o histórico de notas, mas a capacidade de persistir, aprender continuamente e transformar desafios em oportunidades.
As mensagens dirigidas às novas gerações de estudantes sintetizam essa experiência acumulada. Em diferentes vozes, egressos recomendam aproveitar o curso para se descobrir, buscar estágios, iniciação científica e experiências internacionais, fazer perguntas, não temer o erro e, sobretudo, desenvolver a capacidade de recomeçar sempre que necessário, além de cultivar responsabilidade, organização, desenvolver soft skills e uma visão ampla dos problemas, mantendo sempre o olhar voltado para o mundo real e suas demandas tecnológicas e sociais. Repetem-se conselhos como “não desistam”, “confie no processo”, “faça IC e participe de projetos de extensão” e a constatação de que a graduação é uma fase particularmente dura, mas que, justamente por isso, abre portas e prepara para desafios profissionais e pessoais mais complexos, seja na área acadêmica, na indústria, no empreendedorismo ou em carreiras ainda em formação no cenário da ciência e da tecnologia.
Ao reunir esse conjunto de histórias, números e impressões, o curso de Engenharia Física do IF/UFG reafirma a vocação que o orienta desde 2013: ser um espaço de formação interdisciplinar, rigorosa e inovadora, articulando ciência básica, tecnologia e compromisso com o desenvolvimento regional e nacional. Das primeiras turmas pioneiras, que encararam o desafio de consolidar um curso novo em Goiás, às turmas mais recentes, já inseridas em redes de pesquisa, inovação e mercado altamente sofisticadas, o que se vê é uma comunidade de engenheiras e engenheiros físicos que levam consigo não apenas competências técnicas avançadas, mas também a convicção de que é possível abrir caminhos inéditos e contribuir, de forma concreta, para transformar a realidade ao seu redor.
O leitor poderá visualizar essa linha do tempo em imagens: ao final do texto, será apresentado o recorte da matéria original de 2013 sobre a criação do curso de Engenharia Física no IF/UFG, em diálogo direto com fotografias atuais de egressas e egressos em diferentes contextos profissionais e acadêmicos. Juntos, o recorte histórico e as fotos contemporâneas compõem um mosaico que torna visível a ponte entre o projeto pioneiro de 2013 e os muitos caminhos que a Engenharia Física da UFG ajudou a construir ao longo desta primeira década.
Saiba mais sobre o curso e as trajetórias mencionadas
Links relacionados – egressas e egressos citados
Janine Cavalcante de Oliveira
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https://www.linkedin.com/in/janinecavalcante/
Instagram:
https://www.instagram.com/janine.energia/

Arthur Henrique Floriano Pereira
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https://www.linkedin.com/in/arthur-floriano-5a9b8b14a

Rafael Cárbat Miranda
LinkedIn:
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Gustavo Lourenço Silva Galvão
Notícia IF/UFG – Prêmio de IC:
https://if.ufg.br/n/146941-sessao-especial-consuni-discente-recebe-premio-por-iniciacao-cientifica
LinkedIn:
https://www.linkedin.com/in/lourencogsg

Julio Anderson de Oliveira Júnior
LinkedIn:
https://www.linkedin.com/in/julio-anderson-4546a694/

Letícia Lira Tacca
LinkedIn:
https://cl.linkedin.com/in/letacca
Google Scholar:
https://scholar.google.com/citations?user=WU1pslwAAAAJ&hl=pt-BR
Hackathon 2022 – reportagem:
Reportagem Dia da Mulher (MIROptics):
https://www.miroptics.cl/cientificas-de-excelencia-la-experiencia-de-dos-integrantes-de-miro/
Review em Physics Reports (DI‑QKD):
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0370157325002558?via%3Dihub
Marcos Evangelista Oliveira Sales
Site profissional:

Lucas de Sousa Silva
LinkedIn:
https://www.linkedin.com/in/lucas-de-sousa-silva-msc-88b936208/
ORCID:
https://orcid.org/my-orcid?orcid=0009-0002-0539-1103
Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1132415571154345
Reportagens e notícias sobre pesquisas com supercapacitores e publicações:
Jornal UFG – armazenamento de energia:
IF/UFG – 20 publicações do PPGF:
IF/UFG – estudo de capa no Journal of Physical Chemistry C:
IF/UFG – prêmio no X SEEDMOL:

Luiz Henrique Araújo Rodrigues Ferreira
LinkedIn:

Sávio Pereira Alves

Carolyne Beatriz Simões Valentin

Danielson Dantas Magalhães
Informações institucionais do curso
Resolução CEPEC – Engenharia Física (matriz/estrutura):
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/3/o/Resolucao_CEPEC_2015_1379_Engenharia_Fisica.pdf
Categorias: IF/UFG arquivo histórico Divulgação
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